(Renminbao.com) Em 3 de fevereiro de 2001, imagens dos corpos carbonizados dos supostos “praticantes do Falun Gong” envolvidos na encenação da autoimolação na Praça da Paz Celestial foram amplamente vistas pelo público chinês, ao apareceram na entrevista do programa Ponto Focal, da rede CCTV. As imagens da menina Liu Siying, de 12 anos de idade, caída ao chão, chorando ao lado da mãe que havia ateado fogo em si mesma e dizendo “Mamãe, mamãe”, partiu o coração de toda a China. Ainda mais estarrecedor é descobrir que o sofrimento da menina, que também teve o corpo todo queimado, foi parte de uma estratégia de publicidade articulada pelo governo chinês a fim de manipular a opinião pública e conquistar apoio para perseguir o Falun Gong. A julgar pelos padrões éticos dos governos democráticos, este é caso gravíssimo de abuso e violação dos direitos humanos.
Em 2 de fevereiro, o jornal Jingrong Times informou que o governo chinês continuava impedido qualquer mídia estrangeira de ter acesso e entrevistar a menina. A justificativa era que a medida seria necessária para evitar infecções. Ontem [5 de fevereiro de 2001], um leitor escreveu para site Renminbao.com para contar que, depois de ter visto a terrível cena de menina na televisão, ele e sua esposa quiseram visitá-la e a doar algum dinheiro para ajudar a família com as despesas hospitalares. Antes de irem, porém, eles ligaram para o Hospital Beijing Jishuitan. O que se segue é parte da conversa com uma médica do hospital, conforme reportada pelo leitor.
Leitor: Alô, é do Hospital Beijing Jishuitan? Por favor, eu gostaria de falar com alguém na unidade de queimados.
Atendente: Existem três alas na unidade de queimados Sr., com qual delas os Sr. gostaria de falar?
Leitor: Por favor, ligue-me com a ala onde está a menina Liu Siying. ... (surge uma voz feminina de alguém da equipe médica): o Sr. quer informações sobre a sua condição atual?
Leitor: Sim, nós gostaríamos de perguntar qual é a condição atual de Liu Siying?
Equipe médica (EM): Ela está como foi mostrado na TV! (Sem maiores explicações)
Leitor: Mas ela está melhor ou pior?
MS: Ela ainda está como foi mostrado na TV.
Leitor: Como podemos ajudá-la?
MS: Você é apenas um telespectador, como poderia ajudar?
Leitor: Nós gostaríamos de visitá-la e doar algum dinheiro.
MS: Não Sr., o Sr. não pode ajudá-la assim, mas nós transmitiremos a sua a mensagem a ela.
Leitor: Nós vimos pela TV que a mão dela estava gravemente queimada e exposta. Havia muitos jornalistas e outras pessoas próximas. Ficamos preocupado com o risco de a menina contrair alguma infecção.
MS: Isso não vai acontecer (em seguida pergunta, aparentemente nervosa): O Sr. é médico?
Leitor: Não, mas eu tenho algum conhecimento na área.
MS (claramente mais relaxada): Você não entende. Eu não posso explicar isso a você. O braço exposto não irá causar nenhuma infecção. Isso é normal. Nós somos experientes no tratamento.
Leitor: Como ela pôde cantar com um tubo na traqueia?
MS (com raiva): Quem disse que ela estava cantando?
Leitor (surpreso): O Diário do Povo noticiou que ela estava cantando. Publicaram até o nome da canção.
MS (silêncio, em seguida prossegue): O Sr. não conhece medicina. A finalidade da traqueostomia é manter a abertura da via respiratória. Não é para... de qualquer forma, a fala não é afetada. O Sr. não conhece medicina, por isso não consegue entender. Eu já disse: isso é normal.
Leitor: A Sra. pode estimar quanto tempo levará para Siying se recuperar?
MS: Eu não posso dizer. O estado dela pode mudar a qualquer minuto.
Leitor: Podemos ir ao hospital para visita-la?
MS: Absolutamente não. Não são permitidas visitas na unidade de queimados.
Leitor: Então nós a visitaremos em sua casa em Henan, depois que ela tiver alta. Posso falar com o médico dela?
MS (séria): Não nos incomode mais. A situação da menina é como mostrada na TV. Qual é o seu nome?
Leitor: Meu nome é X.
MS (insistindo): O Sr. é de Pequim ou de alguma outra província?
Leitor: Eu sou de outra província.
MS: De onde?
Leitor: Província Z.
MS (mais relaxada após saber que o leitor ligava de outra província): Olhe, nós entendemos perfeitamente que o Sr. esteja preocupado com a condição de Liu Siying. Mas o Sr. não deve ligar novamente para interferir no nosso tratamento.
Leitor: Qual o seu nome?
MS: O Sr. não precisa saber isso. Se quiser notícias, apenas ligue para este número. Nós não queremos falar sobre isso... (o telefone foi desligado)
Esse leitor realmente se importava com a criança e quis obter mais informações sobre queimaduras. Então ele conversou sobre o caso com um amigo médico. De acordo com o seu amigo, para a pessoa traqueostomizada é muito difícil falar porque, para a voz sair, é preciso tampar a abertura do tubo. No entanto, o tubo não pode ser fechado por muito tempo porque assim o paciente terá dificuldade em respirar. Mas, para o espanto do médico, na TV a criança falava continuamente. Ainda mais estranho é que, segundo a reportagem do Diário do Povo, a criança cantarolava uma canção conhecida. Insistente, o leitor reportou que ainda queria falar com o médico da criança, Li Chi. Neste ponto, devemos aconselhá-lo: Por favor, não piore a situação e perdoe o infeliz médico que está sendo rigidamente monitorado.
Nota: Mais tarde o leitor escreveu novamente e contou, após a confirmação, que a pessoa com que ele falou por telefone realmente pertence ao quadro de pessoal médico do Hospital de Jishuitan. Tendo em vista a grande repercussão do caso, a sua função era gerenciar a abordagem das pessoas que ligavam ou vinham ao hospital em busca de notícias sobre o caso da menina Liu Siying. Portanto, nenhuma dessas ligações poderia “interferir no tratamento”.
Breve CV do médico encarregado: Li Chi, nascido em 1955, Vice-Presidente da Unidade de Queimados do Hospital de Jishuitan, Pequim. Médico. Professor Associado. Membro da Associação Médica da China. Editor do Jornal de Queimados de China (1976-1979). Estudou na Universidade 6.26, Jishuitan Hospital (1985- 1987). Estudou na Divisão de Queimados, filial do Hospital de Emergências da Universidade de Birmingham, Reino Unido (1994-1995). Estudou cirurgia no Departamento da Divisão Médica da Universidade de Kobe, Japão.
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