(Minghui.org) Ao longo da história, o Himalaia tem sido a terra de muitos cultivadores. As pessoas que vivem ali levam uma vida simples, modesta e todos cantam e dançam. Eles veneram a Lei do Buda. Quase um milênio atrás, nessa região havia um cultivador chamado Milarepa. Enquanto que muitos Budas e Bodisatvas precisavam reencarnar durante muitas vidas e passarem por muitas calamidades antes de obterem a Perfeição, Milarepa alcançou a poderosa virtude suficiente para tal em uma única vida e, mais tarde, veio a ser conhecido como fundador da Via Branca do Budismo Tibetano.

(Continuação da parte 6)

Rechungpa perguntou ao Venerável Milarepa: "Mestre, seguiu as instruções do Mestre Marpa e viveu lá durante alguns anos?”

O Venerável respondeu: "Não fiquei tanto tempo. Depois de viver lá por um tempo, retornei à minha cidade natal. Direi a razão porque voltei para casa”.

“Enquanto meditava isoladamente, praticava diligentemente em tranquilidade e progredi muito, nunca dormia. Mas em certa manhã adormeci. Tive um sonho, no qual estava voltando para minha casa em Kyangatsa. Vi que minha casa, a que tinha quatro pilares e oito vigas estava em ruínas, como as orelhas de um jumento velho. O tesouro da herança mais valiosa da família, a escritura de Maharatnakuta Sutra, estava encharcado e desgastado de forma irrecuperável pelas infiltrações das águas da chuva. A terra do Triângulo de Orma estava coberta de arbustos e ervas daninhas. Minha mãe havia morrido e minha irmã virou uma mendiga que vagava por uma região distante. Pensando nas tragédias que sofri desde a infância e por não poder ver minha mãe por tantos anos, meu coração se entristeceu. Chorei e gritei: ‘Mãe! Minha irmã Peta!' Acordei em prantos com minhas roupas molhadas de lágrimas. Pensando em minha mãe, não pude conter minhas lágrimas e decidi visitá-la novamente”.

“Ao amanhecer, quebrei a entrada de minha caverna sem pensar. Fui até a residência do Mestre pedir permissão para regressar à minha cidade natal. O Mestre estava dormindo, me ajoelhei em frente à sua cama para explicar”.

“O Mestre acordou”.

“Naquele momento, a luz da manhã brilhava através da janela e resplandecia na cabeça do Mestre Marpa em seu travesseiro. Enquanto isso, sua esposa entrou com o café da manhã. O Mestre Marpa perguntou-me: ‘Filho, por que saiu repentinamente de sua meditação? Foi um demônio que lhe interrompeu? Volte rapidamente para sua prática em estado de ding!'”

“Disse ao Mestre sobre o sonho que tive e o quanto pensava em minha mãe”.

“O Mestre me recordou: ‘Filho, quando você veio pela primeira vez aqui, disse que não se importava mais com sua família e com os aldeões. Além disso, deixou sua cidade natal por muitos anos. Mesmo que volte, talvez não consiga rever sua mãe. Quanto às outras pessoas, não tenho certeza que possa encontrá-las. Você viveu muitos anos em Ü-Tsang e depois alguns anos em minha casa. Se está determinado a voltar, posso deixá-lo ir. Você mencionou voltar à sua aldeia e depois retornar para cá mais tarde. Pode até pensar dessa maneira, mas provavelmente não funcionará. Quando você entrou aqui, eu estava dormindo. É um sinal de que não poderemos nos ver novamente nesta vida!'”

“‘No entanto, a luz do sol ilumina minha face, o que significa que o seu dharma brilhará em dez direções, como o sol da manhã. De fato, a parte superior de minha cabeça estava no sol, o que significa que o seu dharma se propagará e prosperará. Por coincidência, Dakmema entrou com comida, o que indica que você possivelmente poderá se alimentar com Samaya [votos e preceitos]’”.

“‘Humm! Parece que não tenho mais remédio a não ser deixá-lo ir. Dakmema, por favor, prepare uma boa oferenda’”.

“Depois que a esposa do Mestre preparou a oferenda, ele elaborou uma mandala e realizou abhisheka para mim com o caminho da maturação, o qual é ensinado oralmente pelas dakinis. Ele também me outorgou todos os versos inéditos sobre a libertação”.

“O Mestre disse: ‘Oh, estes versos eram a profecia do Venerável Naropa. Ele me pediu para lhe ensinar. Você deve seguir as profecias das dakinis e passar estes versos a um discípulo com melhor qualidade inata, até a décima terceira geração’”.

“‘Se alguém ensinar este dharma por dinheiro, fama, respeito ou preferência pessoal, violará as instruções das dakinis. Você deve apreciar especialmente esses ensinamentos orais e praticá-los de acordo com esses versos. Se você encontrar um discípulo de muita boa qualidade inata, inclusive se for pobre e não tiver bens materiais para servir como oferenda, deve proporcionar-lhe o abhisheka e os versos e torná-lo capaz de difundir o dharma. E quanto a todos os tipos de tormentos que o Mestre Tilopa proporcionou ao Mestre Naropa, ou todo o tipo de sofrimento que lhe dei, esses métodos não beneficiam pessoas com pobre qualidade inata. Então, por favor, não os use novamente. Agora mesmo na Índia a prática do dharma está enfraquecendo. Portanto, esses métodos muito rigorosos não são mais apropriados no Tibete’”.

“‘Há nove tipos de dharma de dakini no total. Eu lhe ensinei quatro. E quanto aos cinco restantes, um dos meus discípulos viajará para Índia mais tarde e aprenderá com os discípulos de Naropa. Eles beneficiarão enormemente os seres sencientes e você deveria esforçar-se por buscar este dharma’”.

“‘Pode pensar: sou muito pobre e não tenho oferenda. Mesmo assim, o Mestre me ensinará todos os versos? Por favor, não tenha estas dúvidas. Sabe, não presto atenção a oferendas materiais. Se você trabalha duro na prática e as utiliza como oferenda, essa é a oferenda que mais gosto. Deve fazer um esforço diligente e alcançar o sucesso!’”

“‘Ensinei-lhe todo o dharma único do Mestre Naropa e os ensinamentos orais das dakinis. O Mestre Naropa ensinou estes versos apenas para mim e a nenhum outro discípulo. Passei a você, como se transferisse completamente água de uma garrafa para outra, sem deixar cair uma gota. Para mostrar que o que lhe disse é verdade e não exagerei, agora o prometo frente a todos os Mestres, todos os Budas e Divindades’”.

“Com essas palavras, o Mestre colocou suas mãos em cima de minha cabeça e disse: ‘Filho, vendo você sair dessa vez, sinto muita tristeza em meu coração. Mas todos os dharmas condicionados são transitórios de qualquer modo. Não há nada mais que possa fazer. Por favor, não se apresse em sair. Fique aqui por mais alguns dias para rever todos os versos. Se tiver dúvidas, pergunte-me para poder ajudá-lo com eles’”.

“Seguindo as instruções do Mestre, permaneci ali durante vários dias e limpei toda a minha confusão. O Mestre disse: ‘Dakmema, prepare a melhor comida para a despedida de Mila’. A esposa do Mestre preparou oferendas para os Mestres, Budas, Bodisatvas, dakinis e guardiões celestiais, bem como, uma festa para os irmãos Vajra. O Mestre mostrou totalmente suas habilidades. Às vezes, parecia como divindade de Hevajra, às vezes como Divindades de Chakrasamvara e às vezes como divindades de Guhyasamaja. Seus magníficos ornamentos incluíam um sino de vajra, um pilão de vajra, uma rosa, joias, uma flor de lótus e uma espada. Vermelho, branco e azul, Om, Ah e Hum soavam (as palavras Om, Ah, Hum são fundamentais para todos os versos secretos. Om em vermelho, Ah em branco e Hum em azul). Essas três palavras emitiam uma luz intensa, com todos os tipos de manifestações sem precedentes. O Mestre disse: ‘Todos estes são simplesmente poderes sobrenaturais do corpo. Mesmo que pudessem ser exibidos em grande escala, ainda são ilusões fabricadas de pouco uso. Mostrei-lhes agora, Milarepa, porque hoje nos despedimos de você’”.

“Ao ver o Mestre com uma virtude similar à dos Budas, senti-me extremamente feliz em pensar: ‘Definitivamente, trabalharei duro no cultivo e também alcançarei poderes sobrenaturais como o Mestre’”.

“O Mestre perguntou: ‘Viu? Você está determinado agora?'”

“Respondi: ‘Vi Mestre! Não posso deixar de ser determinado. Quero trabalhar duro na prática de cultivo e também obter poderes sobrenaturais, como o Mestre no futuro’”.

“O Mestre disse: ‘Sim, tem que fazer bem a prática, por favor, lembre-se dos meus ensinamentos que são como ilusões e pratique até alcançar esse reino. Com relação aos lugares para a prática de cultivo, deve usar as cavernas nas montanhas nevadas, vales íngremes e florestas profundas. Entre as cavernas, pode ir a lugares onde os Mestres Indianos praticavam ou Lapchi Gangrauma, uma das vinte e quatro terras sagradas. Lá também praticavam Yolmo Gangra como previsão do Avatamsakra Sutra e Chubar de Drin, onde as dakinis muitas vezes se reúnem. Todos são bons lugares para meditação e outros lugares remotos sem pessoas também podem ser adequados se houver uma afinidade predestinada. Você deve alcançar o sucesso enquanto pratica nesses lugares’”.

“‘Também há lugares sagrados no leste, mas o relacionamento predestinado ainda não chegou. À medida que o dharma se espalhar no futuro, algumas pessoas crescerão e prosperarão nesses lugares’”.

“‘Você deve ir e praticar nos lugares sagrados que mencionei anteriormente, como profetizados. Uma vez que adquira conquistas em seu cultivo, elas também serão uma oferenda para o Mestre, uma recompensa para os pais e um benefício para os seres sencientes. Além de alcançar a Perfeição, não há mais nada que possa ser considerado a melhor oferenda, a máxima recompensa de gratidão e verdadeira beneficência para os outros. Se você não puder ter sucesso, mesmo se você viver cem anos, simplesmente viverá mais enquanto cometer mais pecados em sua vida. Portanto, você deve desistir de qualquer ganância na vida e qualquer anseio por este mundo terreno. Não interaja com pessoas que se entregam a assuntos mundanos ou participam de conversas fúteis sobre coisas sem sentido. Pelo contrário, deve se esforçar para avançar com entusiasmo em seu cultivo!'”

“Enquanto o Mestre falava, ele derramava lágrimas. Olhando-me com compaixão, continuou: ‘Filho, como seu pai, não poderei vê-lo novamente neste mundo. Nunca me esquecerei de você. Não me esqueça de mim também. Se for capaz de seguir minhas palavras, certamente nos encontraremos em Dragpa Khadro (uma das Terras Puras) no futuro. Filho, você deveria estar feliz!'”

“Quando praticar no futuro, se encontrará com um grave bloqueio do fluxo de energia. E nesse ponto, pode abri-lo e lê-lo. Por favor, não abra antes disso'. O Mestre me deu uma carta lacrada com cera. Memorizei as palavras do Mestre em meu coração e senti o benefício além das palavras. Toda vez que lembro os ensinamentos do Mestre, minha compaixão cresce e progrido no cultivo. A profunda graça do Mestre certamente está além das palavras!"

Então o Mestre disse à sua esposa: ‘Dakmema, por favor, faça os preparativos para a viagem de amanhã de Mila, o Homem Poderoso. Embora me sinta extremamente triste para assistir à sua despedida, ficaremos juntos esta noite, filho. Para que nós, pai e filho, possamos ter uma boa conversa’”.

“Dormi na casa do Mestre naquela noite, acompanhando ele e sua esposa. Sua esposa estava extremamente triste e continuava chorando. O Mestre disse: ‘Dakmema, porque chora? Ele aprendeu os versos mais profundos das dakinis através do Mestre e está no momento de meditar em uma caverna. Porque razão chora? Os seres sencientes têm uma natureza Buda intrínseca. Devido à ignorância, não conseguem se despertar para isso e morrem de dor. Na verdade, os mais infelizes são aqueles que vivem neste mundo humano, mas não seguem o dharma. É por eles que você deveria se sentir mal. Mas se você chorar por eles, terá que lamentar o dia todo’”.

“A esposa do Mestre disse: ‘Suas palavras são corretas. Mas, quem pode ter tanta compaixão? Meu próprio filho era excepcionalmente inteligente em relação ao dharma mundano e ao dharma mais elevado do ser humano. Teria alcançado grandes realizações que beneficiariam a ele e aos outros. Mas, morreu e eu fiquei extremamente magoada. Agora, esse discípulo que sempre escuta com tal obediência, não cometeu erros e vive com fé, sabedoria e bondade está a ponto de partir. Nunca teve um bom discípulo antes. Então não posso conter minha tristeza...’ Antes de terminar, ela derramou ainda mais lágrimas e soluçou novamente”.

“Não pude deixar de chorar e o Mestre continuou usando suas mãos para enxugar suas próprias lágrimas. Nós não queríamos nos separar, estávamos todos abalados e tínhamos poucas palavras para dizer. Então, naquela noite, na realidade mal conversamos”.

“Na manhã seguinte, treze de nós, Mestre e discípulos, caminhamos vários quilômetros com oferendas de comida para nossa despedida. Todos ficaram melancólicos com minha partida. Quando chegamos à Colina da Difusão do Dharma, onde se podia ver ao longe em todas as direções, nos sentamos e organizamos um ritual de adoração”.

“O Mestre segurou minhas mãos e disse: ‘Filho, você está a caminho de Ü-Tsang agora. Há muitos ladrões em Tsang e pensei em mandar alguém para lhe acompanhar. Mas devido às razões cármicas, você precisa viajar sozinho. Mesmo estando sozinho, vou orar para que tenha a proteção dos mestres, divindades, dakinis e guardiões. Não precisa se preocupar, pois ficará bem na viagem. No entanto, deve ter cuidado’”.

“‘Em primeiro lugar, pode ir visitar Ngokton Lama e comparar os versos com ele, para ver se há diferença. A partir dai, pode ir para sua casa e ficar apenas por sete dias em sua cidade natal. Depois disso, deve meditar nas montanhas para beneficiar a si e aos outros’”.

“A esposa do Mestre preparou roupas, um chapéu, sapatos e comida para minha viagem. Ela me deu tudo e disse com lágrimas nos olhos: ‘Filho, estas são apenas posses materiais. Esta é a última vez que lhe verei como sua mãe. Desejo-lhe uma boa viagem e felicidade. Prometa-me que nos encontraremos em Oddiyana (a terra da dakinis)!'”

“Depois de falar, ela soluçou outra vez com pesar. Muitas pessoas que vieram se despedir também estavam chorando. Inclinei-me sinceramente perante o Mestre e a sua esposa, tocando seus pés com minha cabeça para pedir-lhes as bênçãos e logo nos separamos”.

“Olhava para trás de vez em quando e todos que se despediram e continuavam chorando. Não suportava mais olhar para trás. Os caminhos da montanha tornaram-se sinuosos e gradualmente não conseguia ver mais o Mestre e a sua esposa”.

“Depois de caminhar um pouco e cruzar um riacho, olhei para trás. Estava longe demais para distinguir o Mestre e os outros que ainda estavam olhando em minha direção. Sentindo-me abatido, quase quis voltar. Por outro lado, sabia que tinha aprendido os versos para alcançar a perfeição. Enquanto não cometesse maus atos, sempre pensaria no Mestre e o adoraria, seria como se estivesse com ele. Definitivamente me encontraria com o Mestre e com a sua esposa em Dhagpa Khadro. Dessa vez, primeiro posso ir para casa visitar minha mãe. Logo, voltarei a visitar o Mestre, certo? Então, reprimi a dor em meu coração e caminhei em direção à casa do Lama Ngokton”.

“Depois de encontrar o Lama Ngokton, comparei meus versos com os seus. Ele era melhor do que eu em explicar o Tantra e expor o dharma. Mas meu conhecimento dos versos para a prática do cultivo não era menor que o dele. Especialmente em relação aos ensinamentos orais das dakinis, realmente sabia mais do que ele. No final, prostrei-me diante dele, me despedi e fui para casa”.

“Eram quinze dias a pé, mas cheguei em três dias. Pensei: ‘O efeito da meditação é realmente incrível’”.

Rechungpa perguntou: "Mestre, quando voltou para sua cidade natal, foi semelhante ao que viu em sonho? Viu sua mãe?”

O Venerável Mestre respondeu: "A situação em minha casa era a mesma que sonhei. Não vi minha mãe”.

Rechungpa disse: "Como foi o retorno para casa? Encontrou alguém na ladeia?”

“Quando estava perto de minha casa, parei em um riacho, rio acima da aldeia onde se podia ver minha casa. Havia algumas crianças com ovelhas. Perguntei-lhes: ‘Amigos, posso perguntar quem vive naquela grande mansão?'”.

“Uma criança mais velha respondeu: ‘Se chama a casa de quatro pilares e oito vigas. Além dos fantasmas, ninguém mora lá’”.

“‘Os donos da casa morreram ou se mudaram?'”

“‘Essa família era a mais rica da cidade, tinham apenas um casal de filhos. Devido ao pai ter morrido cedo, sua vontade não foi respeitada. Os parentes levaram a riqueza de toda a família quando o pai morreu. Depois que o filho cresceu e pediu a devolução das propriedades, os parentes não estavam dispostos a devolvê-las. Então o filho prometeu aprender feitiços. Através da feitiçaria e uma tempestade de granizo, causou sérios danos à aldeia e matou muitas pessoas. Todos em nossa cidade tinham medo de seus guardiões celestiais. Não ousávamos dar uma olhada em sua casa, muito menos visitá-la! Acredito que a casa agora só tem o cadáver e o fantasma de sua mãe. O filho tinha uma irmã mais nova, que era muito pobre e abandonou o corpo de sua mãe. Ela foi mendigar em algum lugar. Quanto ao filho, nós não ouvimos falar dele há muitos anos. Nós não sabemos se ainda está vivo. Alguém disse que há muitas escrituras na casa. Se for corajoso, pode entrar e dar uma olhada’”.

“Perguntei ao pastorzinho: ‘Há quantos anos essas coisas aconteceram?'”

“Respondeu: ‘Sua mãe morreu há uns oito anos. Recordo os feitiços e a tempestade de granizo com clareza. Escutei muitas coisas dos adultos quando era muito jovem. Porém, não as recordo claramente agora’”.

“Pensei: ‘Os aldeões tinham medo dos meus guardiões celestiais e não se atreviam a me machucar'. Soube também que minha mãe havia morrido e que minha irmã vagava mendigando. Tive uma profunda tristeza em meu coração”.

“Ao anoitecer, quando não havia ninguém por perto, fui até o rio e chorei durante muito tempo. Ao anoitecer, entrei na vila e tudo era igual ao meu sonho. O campo lá fora estava cheio de ervas daninhas e arbustos. A antiga casa magnífica e salão familiar para adorar aos Budas já haviam se deteriorado. Ao entrar, encontrei a escritura do Sutra Maharatnakuta danificada pela água da chuva com restos da parede e excrementos de pássaros. A escritura quase se tornou um ninho para ratos e pássaros”.

“Vendo tudo isso e recordando o que aconteceu no passado, um forte sentimento de tristeza abateu a minha mente. Andei até aproximar-me da porta e vi um monte de terra coberta com ervas daninhas envolvida em roupas esfarrapadas. Retirei parte do monte de terra e sujeira com minhas mãos e percebi uma pilha de ossos humanos por baixo. A princípio estava confuso e então percebi que eram os ossos de minha mãe. Minha garganta estava sufocada pela dor e meu coração sofria uma dor extrema. Desmaiei”.

“Eu me recuperei pouco tempo depois e imediatamente recordei dos versos do Mestre. Através da visualização, fundi a alma de minha mãe com meu coração e junto com a sabedoria da linhagem oral dos Mestres. Colocando minha cabeça sobre os ossos de minha mãe, concentrei completamente meu corpo, minha alma e minha mente nos preceitos de Mahamudra, não ousando interromper a concentração nem um pouco. Isso durou sete dias e sete noites. Então vi meu pai e minha mãe libertando-se dos reinos inferiores do sofrimento e transcendendo as terras puras”.

“Depois de sete dias, sai do estado de ding. Em reflexão, percebi que todo o dharma na reencarnação não fazia sentido. Já que todo esse mundo não tem sentido. Pensei em construir uma estátua de Buda com os ossos de minha mãe e colocar o Sutra Maharatnakuta na frente dela como oferenda. Então, iria à caverna de Drakar Taso (Caverna da Pedra Branca de Dente de Cavalo), para trabalhar arduamente no cultivo dia e noite. Se não tivesse determinação e me distraísse com os Oito Ventos Mundanos (tristeza e alegria, perda e ganho, culpa e gratidão, sucesso e fracasso), preferiria morrer antes de ser tentado. Se meu coração tivesse uma pequena busca por conforto ou felicidade, esperaria que as dakinis e os guardiões celestiais me tirassem a vida. Então prometi ser determinado muitas vezes”.

“Ao final, peguei os restos mortais de minha mãe e, depois de limpar os excrementos das aves na escritura do Sutra Maharatnakuta, descobri que o dano causado pelas águas da chuva não era tão grave e o texto ainda era legível. Carregando os ossos de minha mãe e do Sutra Maharatnakuta em minhas costas, meu coração se sentiu extremamente desolado e senti uma forte determinação de deixar este mundo de reencarnação. Decidi abandonar este mundo e praticar com diligência o dharma reto. Ao sair pela porta, meu coração se entristeceu. Enquanto caminhava, cantei uma canção sobre ser claro a respeito deste mundo terreno”.

“Segui cantando e cantando até chegar à casa do professor me ensinou a le, mas ele já havia falecido. Dei a escrita do Sutra Maharatnakuta ao seu filho como oferenda e disse: ‘Esta escritura é minha oferenda para você. Poderia criar uma estátua de Buda com os restos de minha mãe?'”

“O filho do professor respondeu: ‘Não! Não posso aceitar sua escritura, porque tem Guardiões Celestiais por trás dela. Mas posso esculpir a estátua de Buda para você’”.

“Respondi: ‘Por favor, não se preocupe. Estou lhe dando como oferenda. Os guardiões celestiais não vão incomodá-lo’.”

“Ele respondeu: ‘Então fico mais tranquilo'. Logo, ele fez uma estátua de Buda a partir da lama e dos ossos de minha mãe. Depois de um ritual de consagração, ele a colocou dentro de uma torre. Após terminar tudo isso, ele disse: ‘Por favor, fique alguns dias para termos uma boa conversa’”.

“Respondi: ‘Não tenho tempo para falar contigo por muito tempo. Quero retornar urgentemente para cultivar-me’”.

“Ele disse: ‘E se o convidar para ficar comigo por uma noite? Ainda preciso fornecer-lhe comida para sua pratica de cultivo amanhã’. Então concordei em ficar lá por uma noite. Ele perguntou: ‘Quando era jovem, você aprendeu encantamentos e feitiços. Agora está estudando o dharma reto. Isso é muito bom e definitivamente você terá grandes realizações no futuro. Poderia me dizer que tipo de Mestres conheceu e o que aprendeu?'”

“Disse a ele em detalhes como segui um Lama do Caminho Vermelho a primeira vez, e obtive Dzarma Dzogchen (grande perfeição), em seguida aprendi com o Mestre Marpa”.

"Ao ouvir isso ele se admirou: 'Isso é incrível. Se isso é verdade, você pode seguir o exemplo do Mestre Marpa de encontrar uma casa e levar sua prometida Dzese como sua esposa. Não é bom seguir a tradição do seu Mestre?'".

"Respondi: 'O Mestre Marpa se casou porque queria beneficiar seres sencientes dessa forma. Não tenho essa habilidade. Em um lugar onde um leão pula, se um coelho super estima suas habilidades e tenta pular, certamente cairá até a morte. Além disso, odeio extremamente esse mundo de reencarnação. Além dos versos e do dharma do Mestre, não quero nada deste mundo. Meditar em uma caverna é a melhor oferenda para o Mestre. Assim, estou herdando a tradição e também a melhor maneira de fazer o Mestre feliz. Se alguém quer beneficiar os outros e difundir o dharma de Buda, isso só pode ser alcançado através da prática de cultivo. É o mesmo para oferecer salvação aos pais ou ajudar a si mesmo. Além de praticar o dharma, não tenho conhecimento, não quero preocupações e não tenho interesse em mais nada'".

"'Ao voltar para casa dessa vez, vi minha casa abandonada e uma família desfeita. Isso me fez entender profundamente que a vida é transitória e imprevisível. As pessoas trabalham muito duro para ganhar dinheiro ou acumular riquezas. Mas no final, é como um sonho. Portanto, estou disposto a deixar este mundo mais do que nunca'”.

"'Uma lareira é como uma casa em chamas. Aqueles que ainda não sofreram, ou aqueles que esquecem que vamos morrer mais tarde e que enfrentaremos dificuldades nos reinos inferiores durante a reencarnação, buscarão prazer neste mundo terreno. Mas vi, além disso. Independentemente da pobreza, da fome ou do desprezo dos outros, esgotarei minha vida para me cultivar para mim e para os seres sencientes'”.

“O declínio da minha casa, a morte da minha mãe e a partida da minha irmã, deram-me uma lição inesquecível e uma profunda compreensão da brevidade. Não pude deixar de chorar repetidamente: ‘Vá meditar nas montanhas profundas’. No mais profundo do meu coração, de novo e de novo, estou determinado a abandonar qualquer alegria, esgotar minha vida e dedicar todo o meu tempo à prática do dharma".

(Continua na parte 8)