(Minghui.org) “Tráfico de órgãos na China: sobreviventes apelam ao governo de Trudeau” pela repórter Catherine Lévesque, na edição de 7 de abril de 2017 do jornal Huffington Post, Québec.
Duas sobreviventes de campos de trabalhos forçados na China expressaram esperança de que o governo canadense tome providências para acabar com esse flagelo que mata em segredo dezenas de milhares de chineses a cada ano.
Captura de tela da manchete do artigo “Tráfico de Órgão na China: sobreviventes apelam ao governo de Trudeau”, publicado pelo Huffington Post em 07/04/2017
A repórter entrevistou duas praticantes de Falun Gong que tinham sido presas na China, Cindy Song (42 anos) e Jing Tian (47 anos). Cindy Song tinha 26 anos, em 2001, quando foi condenada a três anos de prisão e enviada como prisioneira de consciência para um campo de trabalhos forçados na cidade oriental de Zibo. Seu crime? Seguir os ensinamentos do Falun Gong.
A reporter observou que o Partido Comunista Chinês (PCC) tem perseguido os praticantes de Falun Gong por quase 18 anos e que muitos desapareceram misteriosamente após serem presos.
Os dias da Sra. Song no campo de trabalho começavam às 06:00 e terminavam aproximadamente às 23:00, às vezes à meia-noite. Os intervalos para refeições eram de apenas cinco minutos e ela tinha que pedir permissão para ir ao banheiro. Os prisioneiros eram proibidos de falar entre si.
Mesmo assim, em comparação com violência das sessões de tortura, “o tempo [trabalhando] era considerado bastante tranquilo”, disse ela.
Quando a Sra. Song não estava trabalhando 18 ou 19 horas por dia, ela era espancada, colocada na solitária, submetida a sessões de lavagem cerebral ou privada de sono por vários dias seguidos. Uma vez, ela foi forçada a ficar de pé durante nove dias e noites seguidas.
Prisioneiros como ela também foram obrigados a submeter-se a exames médicos. Antes mesmo de haver chegado ao campo de trabalho, um médico forçou a Sra. Song a colher mostras de sangue e urina e a tirar um raio X.
No campo de trabalho, ela foi obrigada a colocar as suas impressões digitais em um formulário de consentimento para doação dos seus órgãos. De tempos em tempos, os guardas diziam que tinham “quotas” a cumprir e ameaçaram mandá-la para uma “prisão especial”, de onde que ela jamais voltaria.
Atrocidade revelada em 2006
A primeira pessoa a admitir que os presos políticos estavam sendo mortos para terem seus órgãos extraídos foi a ex-esposa de um cirurgião que operava em um campo de concentração em Sujiatun, no nordeste da China. Ela revelou esta atrocidade em março de 2006, em anonimato.
O marido dela havia revelado que ele estava removendo córneas de prisioneiros que praticavam o Falun Gong, alguns dos quais ainda vivos. O hospital onde ele trabalhou também removia fígados, rins e pele antes de incinerar os corpos para destruir qualquer evidência do crime.
Jing Tian, que foi detida várias vezes e enviada para diversos campos de trabalho forçado entre 1999 e 2003, disse que foi nesse momento que ela entendeu porque havia sido examinada tão frequentemente enquanto esteve detida. “Fiquei chocada. Eu não podia acreditar”, disse ela através de um intérprete.
Jing Tian (à esquerda), sua mãe (no meio) e sua irmã Jing Cai (à direita).
A Sra. Jing também sofreu terrivelmente. Enquanto esteve em custódia, ela foi amarrada a uma árvore, desagasalhada, em pleno inverno. Em outra ocasião ela foi amarrada sobre um forno de tijolos. Ela testemunhou alguns prisioneiros serem espancados até a morte.
A Sra. Jing se lembra que médicos coletaram oito tubos de ensaio para análise do seu sangue e que teve que responder perguntas sobre os seus familiares e antigos colegas.
“Como eu morava em uma cidade grande, tinha muitos conhecidos e estava perto da minha família, eles não se atreveram a fazer nada [comigo]. No entanto, eles continuaram a realizar testes regularmente”
Outros presos não tiveram a mesma sorte. Alguns chegaram no meio da noite e ao amanhecer já haviam desaparecido, disse ela.
Projeto de lei em Ottawa
O tema do tráfico de órgãos está novamente na agenda do parlamento canadense. O parlamentar Garnett Genuis, do partido conservador, tentará reviver o Projeto C-561, do antigo Ministro Irwin Cotler, do partido Liberal, que passou apenas pela primeira leitura na Casa dos Comuns, em 2013.
O Projeto C-561 propõe impor sanções penais às pessoas envolvidas em transplantes de órgãos adquiridos por meio de transações financeiras, ou sem o consentimento do doador, seja no Canadá ou no estrangeiro.
“Aqui no Canadá, nós temos um vazio jurídico que precisa ser sanado. Não há nenhuma lei que impeça que um canadense vá ao exterior receber um órgão obtido por meios exploratórios”, disse Genuis, em um discurso esta semana.
“Sob o direito internacional, apoiar o tráfico de órgãos é um crime contra a humanidade, portanto deve ser um crime aqui no Canadá também”.
O ex-parlamentar David Kilgour e o advogado de direitos humanos David Matas publicaram em 2006 um relatório que lançou luz sobre a extensão do tráfico de órgãos de prisioneiros políticos na China. Classificado como “extremista” por autoridade chinesas e russas, o relatório foi proibido de circular naqueles países.
Juntamente com o jornalista Ethan Guttmann, em 2016 os dois autores atualizaram a pesquisa e produziram um novo relatório, de 798 páginas, no qual estimam que o regime comunista chinês realizou cerca de 1,5 milhão de transplantes de órgãos entre 2000 a 2015.
Na China, por outro lado, os dados oficiais falam em cerca de 10.000 transplantes por ano, e que os órgãos de prisioneiros foram retirados com consentimento prévio.
O Canadá deve manter os olhos bem abertos
Uma vez que o governo Trudeau quer fortalecer os laços com a China, Kilgour acredita que o Canadá deve manter seus olhos bem abertos para a questão dos direitos humanos e defender os “valores canadenses”.
“As pessoas têm receio de que essa lei [C-561] não passe porque isso ofenderia as autoridades chinesas. Mas como poderia ofendê-las se eles dizem que eles não fazem esse tipo de coisa?", disse ele, enfatizando a ironia da postura da China.
Cindy Song passou por sessões de tortura até poucos meses antes de ser libertada, no outono de 2004. Seu pai pressionava as autoridades todos os dias até que ela deixasse o campo de trabalho.
Em retrospectiva, a Sra. Song acredita que a mobilização em torno da sua prisão salvou a sua vida. “Eu acredito que, sem a ajuda dos meus pais, eu teria ‘desaparecido', explicou.
A Sra. Jing Tian passou por muitas greves de fome em protesto contra as condições da sua detenção. Ela só foi libertada após chegar à beira da morte, depois de passar 50 dias sem comer.
Ela acredita que as autoridades a mandaram para casa porque queriam evitar qualquer publicidade negativa em torno da sua morte. De qualquer forma, eles não poderiam aproveitar os seus órgãos, por estarem muito debilitados após a longa greve de fome, disse ela.
Uma nova vida no Canadá
As duas mulheres se mudaram para Canadá e desde então levam vidas relativamente pacíficas. A Sra. Song estudou direito e deseja tornar-se advogada. A Sra. Jing gosta de jardinagem e visita locais turísticos em Vancouver para denunciar as ações do regime chinês.
“É importante informar as pessoas sobre o que está acontecendo na China. No Canadá, é difícil imaginar que coisas como essas estejam acontecendo ao redor do mundo. Mas elas realmente estão acontecendo”, diz a Sra. Song.
Ela espera que o governo de Trudeau mantenha esses fatos em mente ao negociar um tratado de comércio com a China. “Quando você faz negócios, você deve conhecer bem a outra parte”, diz ela. “Se a outra parte comete assassinatos em massa, ainda assim você fará negócios com ela?
“O que está acontecendo [na China] é um genocídio dos tempos modernos. Isso está acontecendo agora. A maneira como reagimos revela a nossa humanidade e o nosso senso moral”.
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