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​“Cresci com medo e discriminada”

4 de março de 2021 |   Por Zhang Huijie de Shandong, China

(Minghui.org) Por ser filha de dois praticantes do Falun Gong, a jovem Zhang Huijie de 21 anos, desde os seus sete anos presencia a perseguição e aos 16 anos foi vítima da perseguição. Recentemente, ela apresentou uma queixa criminal contra Jiang Zemin, ex-líder do Partido Comunista Chinês, por iniciar a perseguição.

A infância e adolescência de Zhang foram repletas de medo e ansiedade. Ela testemunhou seus pais sendo presos repetidamente por causa de sua crença, presenciou os sofrimentos dos ferimentos dolorosos e foi seguida e assediada. Ao crescer, mudava da casa de um parente para outro, sofrendo críticas e hostilidade por parte de familiares e estranhos.

“O horror de ver meus pais sendo presos assombra meus sonhos até agora. Muitas vezes, acordo no meio da noite chorando. Ainda me pego olhando para os lados, para ver se estou sendo seguida. Teve uma época que fui feliz e extrovertida, porém tornei-me reservada e introvertida”.


Os pais de Zhang foram várias vezes detidos e presos ilegalmente nos últimos dez anos. As vértebras lombares de seu pai foram quebradas duas vezes devido a espancamentos no centro de detenção. Ele agora é permanentemente inválido. Sua mãe tem parte dos membros paralisados e não consegue cuidar de si mesma.

"Meus pais e eu sofremos muito", disse ela. “Espero que Jiang seja levado à justiça um dia. Mas, nada pode compensar minha infância perdida, a saúde arruinada dos meus pais, a dor que sofremos ou as lágrimas que choramos”.

A Srta. Zhang submeteu seu processo à Suprema Procuradoria Popular em agosto de 2015. Ela considera Jiang responsável pelo que sua família passou.

A seguir, apresentamos o relato da Srta. Zhang sobre a provação dela e de sua família.

Minha vida nunca mais foi à mesma


O nome do meu pai é Zhang Keliang e minha mãe é Wang Zhongyun. Vivemos na cidade de Shouguang, na província de Shandong. Meus pais começaram a praticar o Falun Gong em maio de 1996, e toda a nossa família se beneficiou. Não fico doente desde os dois anos de idade.

Meus pais me ensinaram a viver de acordo com os princípios Verdade, Compaixão e Tolerância e a sempre considerar os outros primeiro. Lembro que sempre que víamos sacos de lixo deixados nos corredores do prédio, meus pais sempre me diziam para levá-los ao lixo. Éramos felizes e queridos.

No entanto, tudo mudou em um instante quando o Falun Gong foi rotulado de “culto” e, em todo o país, seus praticantes foram presos e detidos.

Meus pais foram presos frequentemente desde 2001, fui seguida muitas vezes, assediada e fiquei sem lar. Ficava na maior parte desse tempo com minha Nainai, de 80 anos (minha avó paterna). Vários outros parentes me acolhiam brevemente, mas rapidamente me expulsavam por causa da pressão social.

Enganados pelas mentiras do governo e histórias inventadas que caluniavam o Falun Gong, toda a nossa família se voltou contra nós: eles xingavam e insultavam meus pais na minha frente e não queriam nada com a gente. Quando fiquei com Nainai, ela muitas vezes se ressentia comigo. Uma vez, ela pegou da minha mão algo que tinha acabado de comprar e deu ao meu primo.

Mudei-me três vezes de escola primária e meus colegas sempre me viram como alguém de fora. Lembro-me de tentar explicar uma vez à minha professora de sala de aula o que realmente era o Falun Gong. Ela não apenas se recusou a ouvir, mas também contou à mãe da minha melhor amiga o que eu disse. Mais tarde, minha melhor amiga me disse: "Minha mãe disse que eu não posso mais ser sua amiga, porque sua mãe pratica o Falun Gong". Fiquei muito triste.

Embora não tivesse muitas coisas que meus colegas tinham, eu realmente não me importava. Tudo que queria era estar com meus pais e ter uma família normal. No entanto, a perseguição fez disso um desejo impossível.

Separada de meus pais pela primeira vez

Enquanto fixava informações sobre o Falun Gong em cartazes com meus pais no bairro, numa noite em setembro de 2001, a polícia saiu do nada e nos prendeu. Fomos levados para a delegacia e meus pais foram interrogados separadamente. Passamos a noite lá, vigiados por três policiais. Um deles retirou a cama para bloquear a porta, antes de dormir.

No dia seguinte, eles levaram minha mãe e eu para casa e a saquearam. Eles me deixaram na casa de Nainai e levaram minha mãe com eles. Soube depois que meus pais foram submetidos à lavagem cerebral forçada pela Agência 610 da cidade.

Fiquei separada dos meus pais pela primeira vez na minha vida. Como mamãe e papai se foram, eu fiquei sozinha. Todos os outros membros da família se tornaram hostis, criticavam e insultavam meus pais. Tinha apenas sete anos e não entendia completamente o que estava acontecendo e por que eles se foram. Senti muito a falta deles.

Depois que foram liberados do centro de lavagem cerebral, meu pai teve que trabalhar sem remuneração por um ano e minha mãe foi demitida de seu emprego. Os parentes do lado da família de meu pai não conversavam mais com minha mãe.

Novamente meus pais foram presos

Pensei que o pesadelo tivesse acabado quando meus pais foram liberados. Mal sabia que era apenas o começo. Minha mãe foi presa novamente apenas um mês depois. A polícia bateu à noite em nossa porta. O barulho me acordou.

Para evitar ser preso novamente, meu pai pulou da varanda do nosso apartamento no segundo andar. A polícia abriu a porta e foi atrás dele quando se deu conta de que ele havia fugido. A energia estava desligada naquela noite e estava totalmente escura a sala. Estava com tanto medo que nem sequer chorei. Foi a lembrança mais aterrorizante da minha vida e, muitas vezes, volta aos meus sonhos para me assombrar.

Afinal, meu pai não escapou: ele foi preso e levado à delegacia de Wenjia, onde a polícia o espancou e quebrou suas costas. Meu pai foi hospitalizado. Quando mamãe foi visitá-lo depois que foi libertada, minha tia a expulsou. Ela também tentou fazer meu pai se divorciar de minha mãe.

Apesar do resto da atitude hostil da família, meus pais permaneceram juntos e permaneceram firmes em seu cultivo no Falun Gong. Meu pai se recuperou parcialmente da lesão nas costas, mas o dano nas vértebras lombares foi permanente.


Abandonei a escola na 3ª série

Logo depois que meu pai estava melhor de saúde, meus pais mudaram de cidade. A polícia, no entanto, não desistiu: eles frequentemente chegavam batendo. Fiquei temporariamente com meu tio, mas os policiais à paisana ainda me seguiam por toda parte.

Eles me seguiram da casa do meu tio até a escola e na volta para casa. Eles estavam no meu encalço quando fui à casa de um colega fazer a lição. Eles estavam uniformizados em uma tempestade de neve, rondando a casa do meu tio em um carro preto, repetidas vezes durante uma noite gelada.

Ficava assustada e preocupada o tempo todo e sentia a falta dos meus pais. Não queria chorar na frente da minha família, porque não queria que eles se preocupassem, mas muitas vezes chorava quando estava sozinha.

Antes do final do ano letivo, não aguentava mais. Abandonei a escola e fui morar com meus pais. Embora a vida fosse difícil, fiquei feliz por estar com mamãe e papai novamente.

Um triste ano novo chinês

Antes do início da quarta série, uma praticante me acolheu e pude me matricular na escola primária local onde ela morava. Ela foi muito legal comigo e, até hoje, toda a minha família agradece.

Durante as férias de inverno, meus pais e eu voltamos à nossa cidade natal para visitar Nainai. Antes mesmo de terminarmos o nosso olá, ouvi a sirene e, momentos depois, policiais lotaram o jardim da frente.

Meus pais se esconderam rapidamente e eu fui atrás deles. Quando um dos policiais perguntou onde estavam meus pais, não respondi diretamente. Um oficial baixo me deu um soco e tive que dar vários passos para recuperar o equilíbrio.

Minha Nainai de 80 anos estava com tanto medo que não conseguia parar de tremer. A polícia revistou as casas dos vizinhos e, finalmente, encontrou meus pais e os levou embora. Gritei e chorei quando o carro da polícia desapareceu à distância.

Mais tarde naquele dia, meu primo me levou para a casa da minha outra avó. Um carro preto sem placa nos acompanhou de muito perto. O pai de minha mãe havia falecido um mês antes e a notícia da prisão de meus pais entristeceu muito minha avó. Ficamos sentadas nos abraçando e chorando até meia-noite daquela noite.

Era o ano novo chinês e em todos os outros lugares as pessoas comemoravam o maior feriado. Mas vovó estava cheia de lágrimas e tristeza. Meus pais passaram as férias no centro de detenção naquele ano. Vovó e eu ficamos preocupadas com eles e temíamos o pior.

Minha mãe ficou paralítica

Preocupada que minha presença afetasse o futuro de meu tio e primo, minha tia não quis me matricular no distrito escolar local como membro de sua família. Depois das férias de inverno, voltei à casa de Nainai.

Todos os dias, tomava a rua principal e caminhava para a orla da vila, olhava para longe e esperava que mamãe e papai aparecessem. Quando estava desesperada, me escondia nos campos, nos limites da vila e chorava.

Nunca imaginei que mamãe ficaria paralítica, quando finalmente nos reunimos. Ela nem conseguia andar. O que fizeram com ela? Por que eram tão cruéis?

Vovó me ajudou a cuidar dela. Estávamos com um orçamento apertado, pois não tínhamos renda. Uma garota de dez anos que sempre compra legumes com desconto no mercado dos agricultores certamente atraia a atenção: todos os vendedores me conheciam. Andava cinco quilômetros para ir à escola todos os dias, para economizar dinheiro.

Enquanto isso, meu pai foi espancado no centro de detenção e suas costas foram feridas novamente no mesmo local. Quando foi libertado, também não conseguia cuidar de si mesmo. Embora meus pais tenham recuperado a saúde com o tempo, meu pai nunca mais conseguiu se erguer de novo.

Nos dois a três anos seguintes, finalmente fomos capazes de ficarmos juntos novamente em família. Durante esse período, meus pais fizeram trabalho duro e trabalho temporário para ganhar a vida. Minha mãe trabalhava nos campos nos dias quentes de verão e meu pai fazia vários tipos trabalhos, tal como vigia e mecânico. Ambos eram profissionais de colarinho branco.

O pesadelo sem fim

Em maio de 2008, meu tio veio me buscar no caminho de volta da escola. Ele me disse que meus pais haviam sido presos novamente. Mais tarde, soube que um carro preto sem placa havia forçado minha mãe a andar até ela cair, então a polícia pulou e a levou para o carro.

A polícia revistou minha mãe e pegou as chaves de nossa casa. Papai trancou a porta quando tentaram arrombar, a polícia chamou um caminhão de bombeiros e usou a escada para entrar em nossa casa pela janela. Meu pai foi levado e nossa casa foi saqueada.

Enquanto tentaram arrombar a porta, a polícia quebrou a chave no buraco da fechadura e eu não consegui abrir a porta da nossa casa. Fiquei na casa do meu tio novamente. Usava as roupas velhas do meu primo e tive que pedir dinheiro emprestado a outro tio para pagar minha mensalidade.

Sentia muita falta dos meus pais, principalmente à noite. Fiz mil origami de  tsuru para pendurar e esperava que meu desejo de reunir minha família fosse atendido. Estava na sétima série na época.

No centro de detenção, as pernas da minha mãe foram gravemente feridas devido às torturas. Ela não conseguia se cuidar e estava acamada. Ela não foi enviada para o campo de trabalhos forçados por causa das pernas paralisadas devido às torturas e acabou sendo libertada.

Meu pai também foi recusado a entrar no campo de trabalhos forçados por causa de suas costas quebradas pelas torturas sofridas. No entanto, ele ainda tinha que trabalhar duro no centro de detenção. Ele tinha que separar o alho por mais de 10 horas por dia, em pé, em uma piscina de alho.

Quando foi solto, as solas dos pés estavam escuras e a pele estava descascando. Todas as dez unhas dos pés caíram. Meu pai me contou que os presos designados para vigiá-lo batiam na cabeça dele com um sapato todos os dias.

Meu pai foi preso novamente em julho de 2008 e foi submetido a uma sessão de lavagem cerebral durante dois meses. Mamãe e eu nos preocupamos muito.

Vários homens bateram à nossa porta em uma noite de março de 2009. Meu pai desceu o cano do quinto andar e torceu o pé esquerdo, quando pulou perto do chão. Os xingamentos e espancamentos continuaram por um dia e uma noite. Minha mãe e eu estávamos presas lá dentro e tive que faltar na escola.

A prisão mais recente foi em janeiro de 2015, quando policiais da Delegacia de Shengcheng buscaram meu pai. Soube sobre isso no dia seguinte. Sabendo que a polícia também estava atrás da minha mãe, ficamos longe e não fomos para casa.

Os policiais vasculharam nossa casa e confiscaram 9.600 yuans em dinheiro, 20 conjuntos de selos especiais de colecionador, três laptops, um tablet, uma impressora, celulares e todos os nossos livros do Falun Dafa. Nossa casa foi deixada em desordem. Eles também levaram o nosso carro. Eles não nos deram um recibo de nenhum dos itens retirados. Fomos à delegacia várias vezes para pedir a devolução de nossos pertences, mas fomos afastados várias vezes.


Meu pai ficou detido por três semanas, mas, com a ajuda de um advogado, ele acabou sendo libertado sob fiança. Ele me disse que, na delegacia, o policial Guo Hongtang bateu com tanta força na cabeça dele que papai quase desmaiou.