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Advogado de Direitos Humanos Wang Yonghang | De espectador a vítima: Testemunha na perseguição ao Falun Gong (Parte II)

17 de novembro de 2018 |   Por Wang Yonghang na China

(Minghui.org) (Continuação da Parte I)

O Sr. Wang Yonghang, um advogado de direitos humanos, defende os praticantes do Falun Gong desde que o Partido Comunista Chinês (PCC) começou a perseguir o grupo em 1999. Como Gao Zhisheng e muitos outros advogados que apoiaram os praticantes do Falun Gong, o Sr. Wang foi severamente punido pelo regime, inclusive passou por um período de sete anos de detenção ilegal e tortura brutal.

O Sr. Wang entendeu que o público nunca saberia o que ele e muitos outros praticantes do Falun Gong experimentaram se não contassem suas histórias. A seguir está o seu relato em primeira mão de como o regime comunista violou a lei em sua perseguição aos praticantes do Falun Gong.

Julgado ilegalmente e condenado

Quando uma pessoa detida está em um hospital, um policial do centro de detenção e dois policiais armados são ordenados a vigiá-lo. Preocupados com o impacto do meu caso, as autoridades acrescentaram mais dois policiais, fazendo-os circular diariamente de uma das 13 delegacias supervisionadas pelo Departamento de Polícia de Shahekou em Dalian.

Um jovem policial me vigiando descreveu as ações do departamento de polícia no dia em que me prenderam. Ele compartilhou alguns detalhes desde quando eu saí de casa. No entanto, se a polícia não me tivesse seguido naquela manhã, eles não teriam conhecido esses detalhes. Percebi então que, embora a prisão naquele dia tivesse como alvo principalmente a mim, outros praticantes eram também visados.

Chegou ao meu conhecimento no final de 2009 que o praticante do Falun Gong, Feng Gang, que foi preso quando era monitorado, havia morrido. Eu li no site do Minghui que, depois que fui liberado, ele foi torturado depois de ser preso.

O Tribunal Distrital de Shahekou realizou minha audiência em 14 de setembro de 2009. Eles não notificaram minha família ou advogado, nem me notificaram com três dias de antecedência, conforme as exigências legais.

Após a audiência, o juiz Li Bianjiang se aproximou de mim e perguntou sobre o meu tornozelo lesionado. Eu respondi: "Honorável Juiz Li, por favor, posicione-se corretamente sobre a questão do Falun Gong".

Eu li seus artigos, que foram incluídos como prova. Você é muito talentoso. No entanto, você não deve ir contra o Partido Comunista Chinês (PCC)”, respondeu o juiz.

“Como juiz”, respondi, “o foco deve ser a questão legal, não quem é contra quem”.

Na China, as autoridades e seus rufiões tendem a usar a alegação de "estar contra o Partido" para tomar como alvo seus oponentes e atacá-los politicamente.

O Tribunal Distrital de Shahekou condenou-me a sete anos de prisão em 27 de novembro de 2009. Fiz uma greve de fome em protesto contra a sentença ilegal. O centro de detenção alimentou-me à força e me algemou com os braços nas costas por mais de 30 horas.

Descobri mais tarde que meus dois advogados de Pequim, o advogado Lan e o advogado Zhang, vieram a Dalian seis vezes para me visitar. O Centro de Detenção de Dalian recusou-se a permitir que eles me vissem, mas durante a sua sexta visita, eles foram informados de que o Tribunal Intermediário de Dalian precisava deles para obter minha perspectiva sobre a apelação. Essa foi a única visita de advogado que recebi durante meus sete anos de prisão.

Torturado na prisão

Fui levado para a Nova Prisão de Liaonan em 2 de abril de 2010. Recusei-me a usar o uniforme de prisioneiro. Os presos bateram-me, tiraram minhas roupas e colocaram-me o uniforme de prisioneiro.

Fui então levado para a Prisão nº 1 de Shenyang, província de Liaoning, em 22 de abril de 2010. Durante pelo menos duas semanas, vários presos me espancaram ferozmente duas vezes. Eu reportei os espancamentos ao guarda de plantão, Zhang Xiaoyun. Zhang disse indiferente: “Você está ferido? Se assim for, vá ao hospital e peça que verifiquem os ferimentos.

Os presos espancaram-me novamente em 11 de outubro à noite e na manhã seguinte.

Os guardas Chang Hong e Liu Shuang colocaram-me no centro rigorosamente administrado. Durante duas semanas, recebi somente mingau de milho como alimento.

Recusei-me a usar o cartão de identificação que indicava que eu era um criminoso. O chefe do 18º Distrito, Li Shiguang, me privou de meus direitos de fazer compras por nove meses. Assim, fiquei sem papel higiênico, sabão em pó, sopa, creme dental e escova de dentes. Por um longo tempo, eu tive que pegar os tubos vazios de pasta de dentes que as pessoas jogaram fora, para espremer os últimos restos.

A prisão me levou do 18º Distrito para o 2º Distrito em 1º de junho de 2011, depois da morte do praticante do Falun Gong, Hou Yanshuang, do 2º Distrito, para equilibrar a distribuição dos prisioneiros do Falun Gong.

O vice-diretor Chen Dong, do 2º Distrito, alegou que era responsável por mim. Ele pensou em algumas maneiras para eu realizar "trabalho simbólico", como fazer contabilidade. Mas eu recusei.

Ele gritou comigo: “Na prisão, guardas e detentos precisam trabalhar. Por que você não tem que fazer a sua parte?”

"Policiais trabalham para cumprir suas obrigações profissionais", eu disse. “Os presos trabalham para atender às exigências da reabilitação pelo trabalho. Eu não sou um policial nem um preso. Então eu não tenho responsabilidade de realizar o trabalho”.

Chen me trancou dentro da cantina e me impediu de entrar em contato com qualquer pessoa Ele tinha também um preso me vigiando.

A prisão iniciou uma campanha “para erradicar a crença ao Falun Gong” em fevereiro de 2012. O diretor Warden Wang Bin e o vice-diretor Liu Shigang lideraram a campanha. Eles deram aos praticantes duas opções: "Morra ou seja '{transformado'". O método principal era a privação de sono e a restrição de alimentos e água.

Eu fui privado de sono por 13 dias, de 8 a 21 de maio de 2012. Fui diagnosticado com pleurisia e acúmulo de líquido perto da minha segunda costela.

Quando minha esposa me visitou em junho de 2012, ela viu que eu precisava ser carregado por outras pessoas. Ela perguntou aos guardas o que havia acontecido. Chen Dong respondeu: "Isto é como uma mãe castigando seu filho".

Chen uma vez me disse: “Você deve manter sua palavra. Você já concordou em se "transformar", então você deve fazê-lo. Por que você não honra seu compromisso?

Depois que me recusei a responderà sua pesquisa de praticantes "transformados", Chen disse: "Se você não responder, não liberaremos você, mesmo depois de sua sentença terminar. Nós vamos manter você preso durante 20 anos.

Outro dia, Chen trouxe uma cadeira de ferro para me torturar. Um detento me disse, depois que Chen saiu: “Quando o PCC faz isso com pessoas como você, é apenas uma manifestação de sua incompetência.”

Mais tarde fui levado para a Prisão Tieling, que possui instalações para colocar em quarentena os pacientes com tuberculose.

Trazido de volta para tortura

Em março de 2013, a Prisão nº 1 de Shenyang enviou algumas pessoas para a Prisão Tieling para ver se eu havia sido "transformado". Eu disse-lhes que manteria firme a minha crença e condenava sua prática de "transformação" forçada.

Escrevi uma carta para a Prisão de Tieling para expor a tortura que sofri na Prisão nº 1 de Shenyang. A Prisão nº 1 de Shenyang levou-me de volta em 25 de junho de 2013. Fui colocado no 19º Distrito e torturado com o banco do tigre durante três dias.

Somente recebi mingau de milho durante 15 dias. Eu tinha dores no peito e nas costas, por isso fui à clínica para um check-up. A radiografia mostrou que eu tinha sintomas de pleurisia e tuberculose.

Fui colocado sob intensa vigilância durante dois meses, até 23 de agosto. Era verão, mas eu não tinha permissão para tomar ducha, lavar minhas roupas, lavar meu rosto, mãos, pés ou usar papel higiênico. Fui forçado a permanecer sentado em um banquinho de madeira das 6 da manhã às 22 horas todos os dias. Eu não tinha permissão para ir ao banheiro à noite.

Voltei para o 2º Distrito depois que meus sintomas de pleurisia desapareceram em 23 de janeiro de 2013.

Fiquei no hospital em 16 de abril de 2013, por causa da minha lesão no tornozelo. Fui examinado pelo Primeiro Hospital e pelo Quarto Hospital Afiliado à Universidade Médica da China e ao Hospital Ortopédico de Shenyang. Seu diagnóstico foi inflamação pós-operatória dos ossos.

Liberado, mas vigiado

3 de julho de 2016 foi o fim da minha sentença de prisão. Um policial encarregado dos praticantes do Falun Gong me levou para fora. Ele disse: “Não faça de novo. Você não viu durante todos esses anos que você tem apenas os membros de sua família para confiar em momentos críticos?”

Eu entendi o que ele insinuou. Respondi: "Se não fosse pelos esforços consistentes dos praticantes do Falun Gong e das pessoas no estrangeiro, nossa situação aqui seria muitas vezes mais miserável!"

Ele ficou em silêncio.

Na verdade, se não houvesse atenção e apelos consistentes, eu poderia não ter sobrevivido.

A prisão não me liberou a princípio, alegando que eles estavam esperando pelas ordens do governo local. Eles não me liberaram até que várias pessoas do meu comitê residencial de rua apareceram.

A fim de me vigiar, o comitê residencial de rua e a delegacia local instalaram uma câmara em minha casa e outra no telhado do prédio, de frente para minha varanda. A da frente estava apontada para a minha porta e a dos fundos ficava de frente para os nossos dois quartos. Ambas eram câmaras de raios infravermelhos.

Testemunha de homicídio

A seguir estão os casos de mortes de praticantes do Falun Gong que eu tenho conhecimento direto ou indireto:

1. O praticante Feng Gang de Dalian morreu em circunstâncias suspeitas;

2. O praticante Hou Yanshuang de Lingyuan morreu em Shenyang, na Prisão nº 1;

3. O praticante Peng Geng, do Departamento de Polícia da província de Liaoning, morreu durante uma greve de fome ou de tuberculose na Prisão de Tieling;

4. O praticante Li Shangshi de Panjin morreu em Shenyang, na Prisão nº 1;

5. O praticante Liu Zhanhai, da cidade de Harbin, província de Heilongjiang, morreu na Prisão nº 1 de Shenyang.

6. O praticante Guo Chunzhan, de Huludao, morreu de falência de órgãos após ser liberado da Prisão nº 1de Shenyang.

7. O praticante Hu Guojian de Fushun morreu na Prisão de Benxi, província de Liaoning.

Outros incidentes

Minha esposa foi presa duas vezes quando eu estava na prisão. Ela foi mantida durante 5 dias em um centro de detenção. Então ela foi levada para o Centro de “Lavagem Cerebral” de Fushun por 30 dias.

Em abril de 2017, fui ao Departamento de Entradas e Saídas de Dalian para solicitar um passaporte por motivos de negócios. Disseram-me que o policial Guo bloqueou-me a obtenção de um passaporte.

Quando viajei no trem de alta velocidade recentemente, policiais esperaram por mim no meu lugar. Eles tiraram-me uma foto e revistaram minha bolsa.

Contextualização

O Sr. Wang Yonghang, um praticante do Falun Gong, era advogado do Escritório de Advocacia de Qianjun, na província de Liaoning. Ele aconselhou, representou e defendeu vários praticantes do Falun Gong desde 2007.

Ele publicou sete artigos no site do Dajiyuan, incluindo uma carta aberta dirigida ao mais alto serviço judicial na China. Em sua carta aberta, intitulada “Erros cometidos no passado que exigem correções rapidamente hoje”, o Sr. Wang destacou que as autoridades do PCC controlam o sistema legislativo e judicial, sem restrições nem limites, e os utilizam para perseguir os praticantes do Falun Gong sob o disfarce da legalidade.

Como resultado de suas cartas, e sob grande pressão das autoridades, o escritório de advocacia onde trabalhava o despediu. Sua licença de advogado foi confiscada e retida pelas autoridades.

Ele foi preso em julho de 2009 e condenado a sete anos de prisão. Seu caso foi incluído no Relatório do Relator Especial das Nações Unidas de 2010 sobre Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos, Degradantes ou Maus Tratos.