(Minghui.org) [Ouça esta experiência]
Você estaria disposto a viajar 1.600 quilômetros, digamos de Brasília até Florianópolis? Provavelmente.
Caminhando? Hummm... Bom, talvez não.
Eu fiz isso. Caminhei 1.600 quilômetros de uma cidade na província de Gansu até a capital da China, Pequim. Sofri muitas dificuldades no caminho, mas também experimentei muitas alegrias e inclusive milagres.
Aqui lhes exponho como e porque fiz isso.
Certa vez, quando cursava o terceiro grau, vi um pedaço de pau voando na minha direção quando estava no pátio no intervalo das aulas. Isso me golpeou na cabeça, porém não senti nada. Olhei ao meu redor e pensei: o que foi isso? Os outros estudantes estavam brincando como se nada tivesse ocorrido. Nesse momento, ainda sendo muito jovem, percebi que eu podia ver e ouvir coisas de outras dimensões que os outros não podiam ver nem ouvir.
Isso não tornou a minha vida mais fácil. Eu tinha um problema físico sério nos meus ossos da pelve e das pernas. Era tão doloroso que os outros faziam piada dizendo que eu era má até os ossos. Submeti-me a uma cirurgia para tentar corrigir o problema e procurei alívio no qigong, mas foi tudo em vão.
Então, um dia li um artigo sobre os efeitos milagrosos do Falun Dafa e como o Falun Dafa elevava o nosso caráter, nosso xinxing. Assim, comecei a cultivar. Imediatamente senti mudanças impressionantes no meu interior, a nível celular.
Minha alegria não durou muito. O Partido Comunista Chinês (PCC) proibiu o Falun Dafa em 1999, poucos meses depois que comecei o meu cultivo. Senti uma enorme pressão pelo bombardeio constante da atroz propaganda.
Na China o povo tem o direito de ir ao Departamento de Apelações para pedir que certas questões sejam resolvidas. Decidi ir a Pequim para pedir justiça pelo Falun Gong. A viagem de quatro dias de trem foi uma grande experiência para mim. Vi muitos praticantes do Dafa que se dirigiam a Pequim pelo mesmo motivo.
Tão logo retornei para casa, queria voltar novamente, mas o dinheiro havia acabado. Mesmo sem dinheiro, estava decidida a ir. “Certo, não tenho dinheiro. Então vou caminhando!” Outro praticante me animou: “Seja firme ao caminhar! Não se renda por mais que doam os pés”. Outras duas praticantes disseram que iriam comigo.
Meus pais não queriam que eu fosse. Tinham medo de que poderia arranjar problemas com o governo. Estava enfrentando um dilema. Não queria que se preocupassem, mas ao mesmo tempo, queria defender o Dafa diante de tantas propagandas difamatórias.
Minha irmã, que não era praticante do Falun Dafa, comprou um par de sapatos novos para mim. Ela disse: “Seus pés não doerão muito se usá-los”. Essa era uma clara indicação: era hora de partir. Ao ver que eu estava pronta para ir, minha mãe em lágrimas me pediu para ficar.
“Fiz uma promessa há muito tempo, muitos anos”, disse a ela com calma: “Tenho sofrido muito nessa vida esperando pelo Dafa. O Mestre me salvou. Não vou me esquivar das dificuldades. Quero cumprir a minha promessa. Inclusive estou disposta a dar a minha vida pelo Dafa.”
O Mestre disse:
“Você deve saber que uma vez que uma pessoa aprende a verdade e o verdadeiro sentido da vida, ela não se arrependeria de desistir da vida por isso.” (“Alguns pensamentos meus” - Essenciais para Avanço Adicional II)
Levantei cedo numa manhã de julho de 2000. Quando sai de casa, senti que havia me desprendido de tudo. Imediatamente me encontrei com um problema. A porta do pátio estava fechada. “Mestre”, pedi a ele no meu coração: “por favor, ajude-me a sair”. Com todas as minhas forças, escalei a muralha que rodeava o pátio e pulei por cima. Já estava na rua. Ouvi meu pai pedindo para que eu voltasse. Continuei caminhando. Se tivesse olhado para trás, não teria continuado.
Encontrei-me com as minhas companheiras, uma delas eu a chamava de Tia e a outra chamava de Irmã e assim seguimos adiante. O primeiro dia foi um verdadeiro desafio. Fazia calor. Não havia locais no acostamento para que pudéssemos parar para beber água ou para descansar. Estávamos com sede e não tínhamos comido nem bebido nada durante o dia inteiro. Ao anoitecer, minhas pernas se sentiam como dois postes de madeira. Minhas pernas não me levavam, era eu que estava arrastando-as.
“Por favor, prossigam. Não quero fazê-las perder tempo. Logo alcançarei vocês”, disse cansada. “Não”, disse Tia com firmeza. “Nós iremos juntas”. Ela agarrou-me pelo braço e me deu apoio. Caminhamos toda a noite. Minha roupa estava tão molhada que até o ar noturno não podia secá-la. Não conseguia me movimentar. Parecia que eu tinha usado cada grama da minha energia.
A luz da manhã iluminava o céu quando nos aproximamos de um pequeno mercado. Tia comprou dois tomates para mim. Ao morder o suculento tomate pensei: “Retornei à vida!”
Alguns dias depois chegamos ao povoado natal da Tia e da Irmã. Ficamos alojadas na casa dos seus parentes. No dia seguinte nos encontramos com o filho de Tia e o marido da Irmã. Eles repreenderam as minhas companheiras por estarem fazendo essa viagem e pediram a elas que retornassem para casa.
Decidimos partir nessa mesma noite. Fiquei com Tia num quarto. Durante um sonho, ouvi que Irmã me chamava: “Binfen, ande logo!” Ela estava a cerca de dez metros de distância. Estava escuro e a única coisa que conseguia ver era ela.
Olhei para o meu relógio. Passava das três horas da manhã. Acordei Tia e saímos do quarto em silêncio. Subimos o muro do pátio. Saltei abaixo, porém cai dolorosamente de costas. Encontrei um poste para ajudar Tia na sua descida. Nos encontramos com Irmã que vinha da casa onde estava hospedada. Começamos a correr.
O marido de Irmã descobriu que estávamos indo e nos perseguiu. Ele nos alcançou e nos levou de volta. A dor nas minhas costas irradiava por todo o meu corpo. “Irmã e eu não podemos continuar”, me disse Tia. “Porém você pode ir já que a sua família não está aqui. Porém fico preocupada com a sua viagem. Talvez devêssemos retornar para casa e aguardar outro momento para ir. O que acha?”
Nesse momento tive que tomar uma decisão. “Por favor, não se preocupem. Vou seguir sozinha.”
Caminhei ao longo das vias férreas que conduziam os trens à Pequim. Queria caminhar mais rápido, mas minhas costas doíam tanto que tinha que caminhar encurvada. Não lembro quanto caminhei. Finalmente parei quando já não podia mais suportar a dor e me sentei. Isso era ainda mais doloroso. Não podia respirar, então fiquei novamente em pé.
Ouvi que alguém gritava: “Binfen, ande logo!” Um carro parou. Irmã estava acenando para mim. Eu havia visto essa mesma cena no meu sonho na noite anterior. O Mestre estava me dando uma pista. Comecei a chorar. Corri até onde estava Irmã e me esqueci da dor nas minhas costas.
Nós nos sentamos no carro e Irmã me disse que estava preocupada que eu continuasse sozinha. Ela me contou que havia fugido e tinha alugado um táxi para me procurar. Não tinha ideia de onde eu poderia estar. Mas milagrosamente, quando olhou pela janela do carro, me viu caminhando ao longo dos trilhos.
Que coincidência. Tantas coisas tiveram que ocorrer para que nos encontrássemos. E se as vias férreas não estivessem próximas da estrada ou se Irmã estivesse olhando para o outro lado, se eu estivesse sentada, se houvesse caminhado um pouco mais rápido ou mais lento... Não há palavras que possam descrever a imensa benevolência com que o Mestre nos protege.
Nenhuma de nós tinha muito dinheiro, pagamos o taxista e continuamos nossa caminhada. O suor gotejava da minha cabeça e os resíduos de sal manchavam a minha face. Minha roupa estava ensopada. Havia pedras do tamanho de ovos cobrindo as vias. Meus sapatos deformaram e as unhas dos meus pés caíram. Às vezes, sentia como se meu estômago estivesse cheio de pedras.
A cada manhã, nem bem me levantava, meus pés doíam muito. Tinha que arrastá-los adiante durante vários minutos até que ficarem mais leves. Sentia dor nos pés inclusive quando estava sentada. Às vezes sentia tanta dor nas costas que tinha que me deitar, porque era incapaz de me mover.
Nossas condições de vida eram terríveis. Afortunadamente, o Mestre eliminou o meu desejo por comodidade. O asseio já não me importava muito. Podia dormir em qualquer lugar. Resisti ao calor intenso, à fome excessiva e aos maus odores. As formigas, insetos e ratos passavam por cima de mim enquanto dormia e eu não me incomodava. Os trens produziam um som estremecedor ao passar e isso não me perturbava.
Quando estávamos esgotadas, Irmã e eu estudávamos o Fa. Quando sentia dor, pensava nas palavras de ânimo do praticante: “Seja firme ao caminhar. Não se renda por mais que doam seus pés”. Disse a mim mesma: “Por maior que seja a dor, ignorarei”. Pouco a pouco, quando deixei de sentir dor, caminhei cada vez mais rápido. Minhas pernas ficaram tão leves como se não existissem e parecia que eu estava voando.
Um dia caminhamos até o anoitecer e chegamos a uma plataforma redonda. Na escuridão não conseguíamos ver muito bem, dessa forma começamos a tocar com as mãos os objetos ao nosso redor. Irmã encontrou uma bolsa de plástico. Dentro da bolsa havia dois pães quentes. Aquela era uma zona rural e não havíamos visto sequer uma só pessoa o dia inteiro.
“É do Mestre...” Com lágrimas de agradecimento, comemos o pão. Nunca nos preocupamos pela comida. Enquanto caminhávamos, frequentemente encontrávamos comida no caminho, uma melancia, uma bolsa de batatas fritas ou pão numa cesta. Não nos alimentávamos muito, mas nunca senti fome.
Numa noite fria, sonhei que uma pessoa colocava uma jaqueta por cima de mim para me aquecer.
No dia seguinte, tive um repentino desejo de comer carne. Ri de mim mesma. “Estava sonhando?” Chegamos a uma aldeia próximo ao meio-dia. Uma gentil senhora nos trouxe um grande prato de bolos recheados com carne de porco. “Minha filha está aprendendo a cozinhar”, disse a senhora. “Ela cozinhou isto. Por favor, sentem-se aqui para comer. Podem levar o que sobrar para a sua viagem.”
Ela também nos deu várias peças de roupa. “Está fazendo frio. Vocês não têm roupas suficientes.” O Mestre tornou realidade o meu sonho. Frequentemente sentia uma substância parecida com uma nuvem encher o meu peito e era uma sensação maravilhosa. Em relação à dor nas minhas costas e nos meus pés, entendi que o Mestre estava limpando o meu corpo.
Quando chegamos à estação de trem na cidade de Taiyuan, província de Shanxi, uma empregada nos perguntou de onde nós estávamos vindo. Dissemos que tínhamos vindo caminhando desde Gansu. Ela ficou surpresa. “Impossível!”, disse. “Se fosse verdade, os sapatos já estariam desgastados.”
Topamos com dois homens que pareciam ter cerca de 20 anos. Com a intenção de nos roubar, nos seguiram e nos atacaram debaixo de uma ponte. Dissemos que não tínhamos dinheiro e que estávamos indo à Pequim a pé. Verificaram a nossa bolsa e não encontraram nada, exceto uma cópia do Zhuan Falun. Então começaram a caminhar conosco.
À medida que íamos caminhando com eles, falamos sobre o cultivo e sobre a lei de retribuição, ou seja, que se colhe o que se planta. Aconselhamos que procurassem um trabalho e procurassem fazer o bem. Eles ficaram felizes e nos compraram um refresco. Quando chegamos à outra estação de trem, eles estavam esgotados e dormiram nos bancos. Nós seguimos nossa viagem.
Depois de mais de 40 dias andando, chegamos a Praça Tiananmen em Pequim. Uma policial nos perguntou se éramos praticantes do Falun Dafa. Não respondemos nada e continuamos caminhando. Ela fez sinais com as mãos e um carro encostou ao nosso lado. Vários policiais saíram e nos levaram até o carro. Levaram-nos até uma delegacia de polícia. Dois agentes nos interrogaram e nos insultaram. Logo foram embora por não terem conseguido nenhuma informação.
Trouxeram outra praticante. Quando ficou sabendo que tínhamos vindo desde Gansu, nos deu 500 yuanes. “Sei que praticantes como vocês estão vindo a Pequim. Vim buscá-las para dar um pouco de dinheiro. Por favor, aceitem.” Não queria pegar porque queria caminhar de volta. Ela pôs no bolso de Irmã no momento em que a polícia chegou e então a levaram. O Mestre havia arranjado para que tivéssemos dinheiro para voltar para casa.
Levaram-nos para a delegacia da província de Shandong em Pequim. Ali ficamos detidas separadamente. Dois assistentes foram enviados para falar comigo para saber de onde eu era. Falei a eles quando comecei a praticar o Falun Dafa, de como Dafa mudou a minha visão das coisas e de como os praticantes eram perseguidos pelo PCC. “Nós, cultivadores, praticamos Verdade–Compaixão–Tolerância.” Eu disse também: “Sei o que querem. Mas se revelo meu endereço isso ajudará as autoridades. E isso no futuro irá prejudicá-los muito.”
Ficaram sem palavras por um instante. Então um deles perguntou: “Você é uma verdadeira praticante?” Movi minha cabeça afirmando solenemente. “Acredito”, disse ele. Uma praticante me disse que oferecer comida a um cultivador verdadeiro proporciona uma enorme virtude. Pouco depois, me trouxe um prato de comida e um pouco de pão. Libertaram-me em poucas horas. Quando perguntei por Irmã, o guarda negou-se a responder. Quando saí, estive dando voltas, porque estava preocupada por ela.
De repente ouvi um grito. “Binfen!” Olhei ao meu redor. Ela estava no caminho à minha frente. Numa cidade do tamanho de Pequim, com tantas pessoas caminhando por aí, depois de estarmos separadas por tantas horas, não podia acreditar que tivéssemos nos encontrado dessa forma.
Uma vez sonhei que estava caminhando pela trilha de uma montanha. Chegava a uma pequena vala e saltava por cima dela. Quando olhava para trás, vi que a vala era um sulco tão profundo que não se podia ver o fundo.
Esse era o meu caminho. Pode ser que nesse momento tenha parecido um caminho simples, mas na realidade houve grandes desafios e obstáculos. O Mestre resolveu todos para mim.
Durante essa viagem pude compreender que o Mestre arranja tudo. Nosso caminho de cultivo está realmente projetado para nós e só necessitamos segui-lo. Às vezes pode parecer impossível seguir adiante, porém uma vez que atravessarmos a parte espinhosa sentiremos que:
“Depois que se passa pelos sombrios salgueiros, há flores resplandecentes e uma outra aldeia adiante!” (Nona Palestra, “Uma pessoa de grande qualidade inata”, Zhuan Falun)