BEIJING – A Sra. Lu, 40 anos de idade, proprietária de um pequeno salão de beleza, na última quarta-feira à noite teve uma reação típica ao horrível programa de televisão[...] Quando o governo chinês planejou fazer propaganda da forjada autoimolação de falsos praticantes do Falun Gong que deixou uma pessoa morta e quatro gravemente queimadas, encenou um plano como sempre, tão estúpido quanto antiquado: Primeiro, censurar a notícia.

Dias depois, é organizada uma crescente divulgação de artigos e reportagens horríveis na televisão, rádio e jornal. E finalmente, são reunidos os parentes das vítimas traídas para uma completa condenação [...], em seguida chamam grupos maiores – desde líderes das igrejas católicas, budistas e muçulmanas até a Federação da Indústria e Comércio da China - para fazerem denúncias mais ostensivas.Contudo, desta vez, a mensagem parecia repercutir.

Embora seja sempre perigoso avaliar a opinião pública em um país onde todos têm antenas políticas, há um consenso aqui de que, na semana passada, depois de um ano e meio de opressão, o governo finalmente fez eclodir uma propaganda vitoriosa contra o grupo espiritual proibido. Nesse caso, não foi a demora em trazê-la à tona, mas o que foi mostrado: uma mãe enganada persuadindo a sua filha de 12 anos à autoimolação, cenas da garota carbonizada se contorcendo no chão, entrevistas com ex-praticantes que se arrependeram, e com praticantes não arrependidos, que à luz dos acontecimentos pareciam lunáticos para muitos chineses.

O que o governo não relatou ao povo foi o método cada vez mais feroz usado para lutar contra uma organização que se mostrou, digamos, muito mais coesa do que o Partido Democrático da China - não só pela adesão cada vez maior ao Falun Gong, mas também pela disposição inexplicável de tantos seguidores arruinarem as suas vidas.

Recentemente a mídia controlada reconheceu que os crentes moribundos se manifestaram ilegalmente na Praça Tiananmen e informou que um pequeno número dos principais responsáveis tinha sido preso. Mas nunca mencionou o que os defensores de direitos humanos acreditam, que são os espancamentos ostensivos e a tortura dos praticantes detidos por policiais frustrados, podendo resultar em uma centena de mortes confirmadas.

Eles não mencionaram os milhares que parecem ter sido enviados para campos de trabalho sem julgamento, ou simplesmente expulsos dos seus empregos e de seus lares. Os editoriais nem levantaram questões básicas sobre a adequação ou a eficácia da campanha de erradicação pesada do governo, questões solicitadas em particular por muitos chineses. As opiniões aqui variam sobre o quanto, se possível, a sociedade deveria se preocupar com essa prática e grupo espiritual.

Ela atraiu milhões de pessoas, incluindo, obviamente, aqueles que ficaram fascinados. Ao mobilizar mais de 10 mil pessoas para uma manifestação não autorizada em abril de 1999, aos líderes do partido comunista pareceu ser uma ameaça política em potencial. Ainda assim, de alguma forma parece ter sido contraproducente a campanha interminável para proibir e demonizar o grupo.

No final da semana passada, um professor universitário que não gosta do Falun Gong e que ficou chocado com as tentativas de suicídio, perguntou: "As reportagens estrangeiras estão divulgando o que as nossas não podem, como a perseguição severa aos crentes pode ter direcionado essas pessoas a esse ato"?

Quando eles fizeram a primeira manifestação surpreendente em Pequim em resposta a críticas que pareciam obscuras, os líderes do Falun Gong pareciam um pouco propensos a paranoia. Agora, aqueles que continuam a praticar o Falun Gong têm todo o direito de temer o pior, e parece que dezenas de milhares de chineses foram deixados sem nada a perder.

A velha geração que dirige a China ficou chocada e enfurecida quando há dois anos esses zés-ninguém fizeram uma manifestação gigantesca não autorizada do lado de fora dos escritórios executivos. Da mesma forma, os líderes parecem ter ficado atordoados desde então, pela habilidade do grupo de se manter afastado depois de ter sido banido. Os líderes chineses foram obrigados a reconhecer que enfrentam uma longa e desgastante guerra.

Comparado com décadas recentes, é testemunho do quão aberto o país se tornou um grupo como o Falun Gong pôde se organizar, em primeiro lugar, em grande escala, e então persistir sob tão grande pressão.

Entre outras coisas, para este grupo e para o movimento da dificultosa democracia, o correio eletrônico tem se mostrado ser uma arma ainda mais sutil e mais potente do que foi a máquina de fax para a última geração dos não conformistas. As autoridades podem bloquear o acesso a sites inimigos, mas não podem controlar ou mesmo monitorar o envio de e-mail para milhões de chineses, levando todas as notícias censuradas sobre os últimos pronunciamentos do Mestre Li.